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By Ferramentas Blog

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Morte e Vida Severina - Auto de Natal - João Cabral de Melo Neto

Deixo aqui a minha dica de leitura para este Natal. Morte e Vida Severina - Auto de Natal fala sobre um retirante que se dirige para o litoral e João Cabral de Melo Neto descreve com a simplicidade de um sertanejo todos os seus anseios e suas preocupações. Na minha modesta opinião é um dos mais belos poemas de um escritor brasileiro, ele consegue te envolver com sua rima e prender sua atenção com a descrição do sofrimento do retirante por nome Severino como muitos outros da sua terra.
Mesmo sem ser nordestino e sem ter a real dimensão do que eles passam, pude sentir a catársis provocada pela leitura de cada linha poética apresentada, ou seja, ele não faz você chorar, mas te faz sentir cada ponto de dor vivido por um sertanejo em busca da redenção no litoral. É simplesmente uma leitura maravilhosa e os aconselho a fazê-la. Vou deixar aqui embaixo um trecho do auto de natal chamado Morte e Vida Severina:

Morte e Vida Severina - João Cabral de Melo Neto
O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI 
   

— O meu nome é Severino,  
como não tenho outro de pia. 
Como há muitos Severinos, 
que é santo de romaria,  
deram então de me chamar 
Severino de Maria 
como há muitos Severinos 
com mães chamadas Maria, 
fiquei sendo o da Maria 
do finado Zacarias.  
  

Mais isso ainda diz pouco:  
há muitos na freguesia,  
por causa de um coronel  
que se chamou Zacarias  
e que foi o mais antigo  
senhor desta sesmaria.   

Como então dizer quem falo  
ora a Vossas Senhorias?  
Vejamos: é o Severino  
da Maria do Zacarias,  
lá da serra da Costela,  
limites da Paraíba.   

Mas isso ainda diz pouco:  
se ao menos mais cinco havia  
com nome de Severino  
filhos de tantas Marias  
mulheres de outros tantos,  
já finados, Zacarias,  
vivendo na mesma serra  
magra e ossuda em que eu vivia.   

Somos muitos Severinos 
iguais em tudo na vida:  
na mesma cabeça grande  
que a custo é que se equilibra,  
no mesmo ventre crescido  
sobre as mesmas pernas finas  
e iguais também porque o sangue,  
que usamos tem pouca tinta.   

E se somos Severinos  
iguais em tudo na vida,  
morremos de morte igual,  
mesma morte severina:  
que é a morte de que se morre  
de velhice antes dos trinta,  
de emboscada antes dos vinte  
de fome um pouco por dia  
(de fraqueza e de doença  
é que a morte severina  
ataca em qualquer idade,  
e até gente não nascida).   

Somos muitos Severinos  
iguais em tudo e na sina:  
a de abrandar estas pedras  
suando-se muito em cima,  
a de tentar despertar  
terra sempre mais extinta,   

a de querer arrancar  
alguns roçado da cinza.  
Mas, para que me conheçam  
melhor Vossas Senhorias  
e melhor possam seguir  
a história de minha vida,  
passo a ser o Severino  
que em vossa presença emigra.   



VALEU GALERA. ESPERO QUE TENHAM GOSTADO DA DICA DE LEITURA.LEMBREM-SE DELA QUANDO ESTIVEREM SE FARTANDO NA CEIA DE NATAL OU DE ANO!! ABRAÇOS E BEIJOS EM TODOS...ATÉ A PRÓXIMA.

4 comentários:

  1. Que bom encontrar por aqui um apreciador de boa literatura...

    já gostei desse blog, cinema, literatura, tudo que envolve arte já me chama a atenção, garanto outras visitas..srsr

    Mas falando do poema, ele me remete aos repentes do sertão, literatura de cordel, arte popular,enfim.. sem falar no grande significado social que ele consegue alcançar sem muito esforço...
    Abro um parentese para uma outra dica, mas dessa vez trata-se de prosa, a leitura do romance Vidas secas, de Graciliano Ramos,profunda, simples e envolvente assim como este belo poema de João Cabral..

    abçs...

    JOice

    abraço..

    =)

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  2. Obrigado joice...vindo de vc é um super elogio bailarina...e vc deu uma boa dica sobre livros...ainda lembro da cadelinha baleia...eu chorei quando li esse livro...um bjaum joice..

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  3. Nossa ela sim era gente de verdade...
    Eternamente "Baleia"...

    bzim

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  4. Voce é de um bom gosto contagiante...
    Abraços
    Nata

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